Liberdade,
o maior desejo de muitos. Ser livre para fazer o que quiser, na hora que
quiser, sem necessidade de explicações. Ser livre para fazer suas próprias
escolhas, decidir seu próprio caminho.
Mas
a liberdade é um mito.
Não
passamos anos na escola porque queremos. Não trabalhamos 8 horas por dia por
que é gostoso. E mesmo que você trabalhe em algo que ame, você ainda precisa
pagar suas contas no fim do mês de alguma forma. Você pode rejeitar toda a
forma de capitalismo e viver numa floresta, mas você ainda precisa se
alimentar. Precisa procurar por comida, água e abrigo. Pode precisar matar
outro ser vivo para se alimentar. Onde está a liberdade nisso?
Mesmo
em nossos recantos secretos do pensamento, nos recônditos escuros do coração,
não somos livres. Todos os nossos pensamentos, e até mesmo nossas emoções,
foram moldados e nomeados pela sociedade em que vivemos. Não há um único
pensamento em nossa mente livre de amarras sociais ou construções passadas.
Estamos
dentro de um universo repleto de possibilidades, e cada passo que damos é uma
escolha, consciente ou inconsciente, de um novo futuro. Ao mesmo tempo em que
podemos escolher entre essas possibilidades, estamos limitados por elas e não
podemos ir além.
O
que somos hoje é fruto de nossas escolhas no passado, e também das escolhas de
nossos pais e familiares sobre como agir conosco. O que somos hoje, na maioria
das vezes, não é um fruto consciente de escolhas racionais e bem observadas.
Somos guiados por instintos e por emoções, principalmente na infância, e as
escolhas das pessoas ao nosso redor podem nos moldar para um lado ou para o
outro. Não há liberdade, enfim. Não há pensamento livre. Nem ao menos sabemos
se o que queremos é realmente o que queremos ou se isso apenas é fruto de uma
construção imposta. Ou auto imposta.
O
incrível é que, mesmo que não sejamos livres, mesmo que a liberdade não exista,
ainda podemos nos surpreender sobre como nossa vida é moldável. Mesmo que nossas escolhas não sejam conscientes ou
livres, elas nos moldam o tempo todo. E podemos, ao menos, parar de reagir tão
instintivamente aos desafios e mudanças. Podemos refletir sinceramente sobre quem
somos e o que nos tornamos e, baseados nisso, podemos fazer escolhas. Mesmo que
não sejam escolhas livres, serão escolhas conscientes em direção a um
determinado desejo.
Infelizmente,
nosso principal problema é tentar unicamente culpar outros por sermos quem
somos. Temos a tendência principal de culpar nossos pais por nosso desleixo,
descuido, por nossa irresponsabilidade, por nossas falhas.
Existe
um pequeno problema a respeito disso. Ao transferir à outra pessoa a
responsabilidade por nossa vida ter se tornado o que é, nós retiramos de nossas
mãos o poder de transformá-la. É o caminho mais fácil, obviamente. Se
estivermos acomodados com a vida que vivemos, transferir nossos problemas e
defeitos para outrem é a forma mais fácil de continuar estagnado.
Mesmo
que nossos problemas e defeitos sejam, em parte, resultados de uma construção
social, saber disso não nos ajuda a resolvê-los. Para nos curar, para nos
melhorar, para que sejamos melhores em nosso próprio ponto de vista, precisamos
nos responsabilizar por nossas próprias falhas. Precisamos admitir que tudo que
somos é culpa nossa e de nossas escolhas. Transferindo a responsabilidade para
nós mesmos, nós temos o poder de mudar o que não nos agrada. Nós temos o poder
de moldar nossa vida.
O
que não quer dizer que seja um processo fácil.
We can't break the chains. We just choose the chains we want. |