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Ted

Cada pessoa tem seus monstros particulares, seus sentimentos vergonhosos, escondidos tão fundo que às vezes nem se sabe que eles existem. Nessa hora, eles estão prontos para explodir.

O meu monstro explodiu dentro de mim há anos, mas ao invés de retirá-lo e analisá-lo, eu o empurrei rapidamente de volta às partes não-despertas da minha mente. E agora, mesmo sabendo que ele existe, não consigo alcançá-lo.
Minha personalidade tranquila não permite que meu monstro acorde com frequência, mas quando alguém consegue atingir minhas fraquezas, ele vem com força o suficiente para matar.
Eu tenho pavor de que ele acorde. Eu tenho medo do que ele possa fazer.
Decidi chamá-lo de Ted, embora ele seja usualmente conhecido com Ira. As pessoas que me conhecem podem não acreditar que o meu monstro é a ira, pois eu nunca demonstro ódio verdadeiro, amo os seres humanos e não guardo rancor de absolutamente nada. Essas pessoas não percebem que é exatamente por isso que a minha Ira é tão perigosa. É uma das três coisas que os sábios temem: a ira de um ser humano gentil.
Ora, então como impedir que Ted apareça? Evitar revolver as minhas fraquezas. A principal delas é a incapacidade de resolver algo simples. Ser incomodada nessa região me gera um ódio intenso, e ele não se dissipa facilmente. Dependendo do que me foi causado, posso acumular Ira por várias horas antes de explodir, mas se passar de um dia sem essa explosão, Ted simplesmente desaparecerá. Mas estará logo abaixo da superfície, intocável, invisível, mas preparado para explodir em um milésimo de segundo, se incomodado.


Tão fofinho... tão amável...

Cabelo rosa

Minha história com cabelos coloridos começou há anos, quando eu conheci a Marcelle Vadesilho e ela já pintava os cabelos de todas as cores possíveis. No entanto, foi só no ano passado que eu cheguei a alguma coisa próxima a ter cabelos coloridos. Pintei meus cabelos de azul, mas o que eu obtive foi um azul escuro, quase um preto, que mal se destacava. Ele desbotou rapidamente e me deixou com aparência de quem fez luzes. Agora eu finalmente consegui meu descolorante e minha anilina e, com a ajuda da Lorrane Olivlet, fiz exatamente o que queria fazer: pintar meus cabelos de rosa!
Apesar das complicações, entre elas o rosa ficar pouco concentrado e não pegar, e a falta do violeta genciana para a neutralização do amarelo, além de ter manchado tudo em volta com a anilina... deu certo. Sou a única pessoa na minha faculdade inteira com o cabelo colorido e, bem, era isso mesmo que eu queria. Não gosto de ser só mais uma pessoa na multidão. Você pode dizer que eu quero chamar atenção, e estará certo, pois eu gosto de deixar minha marca onde quer que eu vá. Esse é o único modo de superar a morte inevitável que me aterroriza: deixar minha marca no mundo.
O cabelo colorido é só o começo. O que eu realmente quero é deixar minha marca na comunidade cientifica, ou criar alguma coisa que leve meu nome, ou quem sabe ser uma cantora famosa que ainda se ouve 50 anos depois. Qualquer coisa pra escapar da morte. Arrancaria meus dentes com um alicate, um por um, se eu pudesse ser imortal. Se eu pudesse evitar encarar meu medo.
Hehe, de cabelos coloridos para o medo, é incrível ver como esse sentimento me persegue.


Rosa ^3^

Essas discussões alimentam meu monstro

Às vezes eu me sinto de uma incompetência tamanha que eu tenho vontade de desistir de tudo.
Sinto que não nasci para isso. Não é falta de vontade, mas apenas a incapacidade de mudar.  Quando você passa a vida inteira idolatrando uma rotina, não é fácil mudar assim. Talvez pra você seja fácil, mas para mim é uma questão quase impossível de resolver.
Eu não sei exatamente o que fazer para mudar o meu jeito insensível. É uma característica minha, que eu me esforço horrores para não demonstrar, mas que se torna cada vez mais evidente numa vida cheia de rotina.
Talvez num passado eu tenha sido melhor, embora eu acredite que eu era ainda mais incompetente do que sou hoje... mas desde essa época ocorreram coisas muito profundas dentro de mim, e fora também, questões externas que me fizeram refletir, fizeram meu subconsciente se proteger. Essas coisas enormes e profundas não estão acontecendo agora, para que eu possa achar o caminho da mudança.
Isso tudo me incomoda imensamente. Minha agressividade, minha forma de proteção, me incomoda muito, mas é uma tarefa tão árdua retirar isso de mim que simplesmente não vale a pena. As pessoas que me conhecem de verdade sabem disso e simplesmente o aceitam.
Minha incompetência, minha falta de determinação e minha preguiça extrema me fazem rasgar minha pele de ódio. Nada me atrapalha mais do que não conseguir realizar as simples tarefas às quais dediquei meu dia. Sou tão incompetente que nem consigo mudar o que odeio em mim.
É engraçado que, há poucos anos, eu odiava minha aparência a ponto de querer chorar ao olhar no espelho, mas eu me sentia bem com o meu subconsciente, meus pensamentos não me desagradavam. Agora é exatamente o contrário: minha aparência não me desagrada, mas meus pensamentos me fazem querer chorar de ódio de mim mesma, meu eu interior me tortura, me come viva. Meus monstros deixam uma mancha negra grande demais na minha alma, grande demais pra suportar.
A cada briga eu me sinto uma pessoa pior, por não conseguir te fazer feliz. Isso me consome ao ponto das lágrimas, isso me destrói, faz eu me sentir a pessoa mais horrível do mundo. É isso o que você pensa de mim? Porque é o que você me faz sentir. 


I must confess that I feel like a monster.

Mudanças e esperanças

É, essa semana eu vou mudar.
Vou deixar o liso de lado e vou cortar franja reta.
Você pode dizer: franja reta não combina com rosto redondo e blá blá blá
E sabe o que eu penso? DANE-SE!
Porque isso é uma coisa que eu sempre quis, e sempre tive medo de fazer por achar que não combinava com meu rosto. Agora chega. Vou fazer.
Essa decisão foi fácil. O problema são as decisões a longo prazo... Como viajar.
É difícil acreditar que algo nunca vai acontecer, porque nunca é um conceito tão relativo... E mesmo que você queira muito uma coisa, você sempre acaba tropeçando num empecilho. E às vezes você não tem coragem de passar por cima, porque esse empecilho pode ser sua mãe.
Mas, sabe o que é, eu tenho esperança. Eu acredito que as pessoas só morrem na hora certa... eu preciso dessa crença pra não enlouquecer com a possibilidade da morte. E isso me dá força pra continuar, apesar de tudo. Eu acredito na humanidade, acredito em final feliz, e nunca perco a esperança, por mais que eu saiba que as chances estão contra mim. E eu sei que tudo vai dar certo no fim... porque quem acredita sempre alcança.
E, mesmo que seus planos não deem certo na primeira vez, tente de novo. Converse com seu empecilho. Não desista. Esse é meu plano: continuar fazendo planos, apesar dos empecilhos. Continuar tentando cumprir minhas metas, apesar da minha falta de determinação. E a minha esperança vai permitir que tudo dê certo. 


É, essa é a minha esperança.

Diário do Deusão

PRIMEIRO DIA

Eu estou pensando seriamente em criar um mundo. Mas talvez um mundo seja pequeno demais para abrigar todas as minhas ideias grandiosas. Eu posso precisar de vassalos para me ajudar, mas talvez colocar outras pessoas no comando só cause problemas. No momento, eu estou no vazio, decidindo.
Cansei de esperar por ideias (é, eu não tive ideias ainda), e criei um semideus pra me ajudar. Chamei-o de Ralf. Ralf é um cara esperto, ele já nasceu me sugerindo uma ideia (tudo bem, ele nasceu para sugerir ideias, mas não pensei que ele faria isso tão rápido). A ideia dele foi: criar um núcleo de poder centralizado cercado por “braços” (eu achei a palavra feia, mas não tive ideia melhor, além do mais, a logística do projeto se encaixa com o nome) e semideuses para controlar cada “braço”. Eu viajei enquanto ele me explicava o projeto: fiquei pensando que, se eu criei o Ralf, logo, ele era parte de mim. Uma parte de mim que representava algo que já existia aqui dentro, mas que eu negava, por algum motivo. Sendo ele parte de mim, eu podia interagir com ele como se ele fosse eu mesmo, mas ele não podia ter o mesmo controle sobre mim. Fiz ele dar um soco em si mesmo no meio da palestra. Foi engraçado, mas doeu em mim. Tenho que melhorar isso.
Descansei da falação do Ralf e comecei a criar. Primeiro eu tentei formar alguns elementos básicos para começar a formar o resto, como massinha de modelar. Mas não deu muito certo: estava tudo escuro. Não queria depender do Ralf (mesmo ele sendo parte de mim) e resolvi criar eu mesmo a solução: um interruptor. Quando eu o acionei, tudo ficou visível, e ficou muito mais fácil de criar. Coloquei os elementos iniciais numa gaveta, eles poderiam ser úteis. Comecei de novo.
Ralf me sugeriu criar trocentos elementos diferentes, que juntos formariam uma coisa só, que seria uniforme e perfeita. Eu não gostei muito da ideia, daria muito trabalho. De novo pensei: se o Ralf faz parte de mim, aquela ideia seria algum tipo de fetiche meu reprimido? Fiquei um pouco perturbado com esse pensamento, então resolvi parar de criar por agora.
Ralf veio conversar comigo. Ele falou que também fica perturbado às vezes, por ele ser eu e eu ser ele. Isso é tão confuso. Mas um sentimento engraçado me atingiu, quando eu percebi que meu sentimento era compartilhado. Tenho que dar um nome pra isso. Só sei que isso me animou a criar novamente.
Primeiro criei um núcleo centralizado, cheio de coisas brilhantes que o Ralf carinhosamente apelidou de estrelas. Acho que o nome vai pegar. Mas isso foi estressante, baseado em tentativa e erro, e eu fiquei exausto. Precisava de criar algo que facilitasse o descanso, uma coisa que fosse confortável. Ralf me sugeriu (já estava começando a ficar irritado com ele se intrometendo em tudo) criar algo na horizontal, e em seguida explicou o porquê disso de acordo com a Física. O que diabos é Física?
Apesar da minha descrença em relação à essa ideia, resolvi fazer o que ele sugeriu, e criei uma coisa que chamei de cama. Ralf achou muito simples, mas eu gostei, representava perfeitamente o propósito dela, simples e confortável. Apaguei o interruptor e desmaiei no confortável abraço da melhor criação desse universo.


Pequena tentativa de desabafo

Não sei porque às vezes eu me sinto tão cansada. Tão cheia de tudo. Velha demais para o mundo em que vivo.
Queria entender a razão de tanto desânimo. Perco a vontade até de entender isso. Não aguento mais essa rotina, esse computador. Dá vontade de deitar e morrer.
Seria mais fácil se eu pudesse explicar isso aos outros. Então não teria que ouvir tanto sermão, tanta ironia, tanta raiva. Se entendessem que eu não sinto vontade nem de mexer... quanto mais de digitar isso para que entendam, ou de falar, ou de arrumar meu quarto, reunir a bagunça que fiz, ligar pra alguém...
Parece um início de depressão. Aquele momento em que nada te atrai, mas ficar sem fazer nada é pior. Então você sente vontade de ler, de escrever, de botar pra fora essa coisa, mas aí você pega o papel, o lápis, e é só desânimo...
Que chato ser um ser humano complexo. Que chato ter um cérebro que quer entender o que não pode ser explicado, que quer explicar o que não pode ser entendido.
Essa vontade louca de que me entendam! Essa vontade louca de me explicar! Esse sentimento horrível de que isso é impossível! Mais uma vez eu estou aqui, escrevendo, explicando que eu quero explicar uma coisa que está dentro de mim, mas que não consigo tocar... Já fiz músicas, poemas, escrevi no blog, e estou escrevendo de novo, mas não sai. Nunca sai. Nunca entendo. 
Será que isso que gera esse desânimo de agora? Será que é isso que gera esse medo constante? Nem o meu medo eu sei explicar. Talvez eu tenho medo de mim. Talvez eu esteja cansada de mim.



All the things SHISEI are held


A mais profunda escuridão. Eu não via. Mas existia. Não havia tempo ou espaço. Só havia eu, flutuando no vazio.
Uma luz surgiu, minúscula. Quem a colocara ali? Ninguém. Só havia eu. Então, como ela surgira?
Aproximei-me dela. Parecia formada de muitas coisas. O vazio ao seu redor era deformado, e a luz pulsava. Toquei-a, mas acho que não devia tê-lo feito. Pois assim foi criado O Universo.
Explodiu. As partículas se espalharam; algumas se chocaram, formando partículas novas. Por onde elas passavam, formava-se a malha do tempo-espaço e tudo passou a existir. Uma centelha de luz acompanhou cada partícula, e elas se espalharam até eu não conseguir mais vê-las. As únicas coisas que sobraram foram eu e a centelha e luz original, que parecia falar comigo. Ouvi-a. Não havia palavras, mas sim o desejo de criar.
Criei.

O preço da liberdade

Angústia. Tão palpável. Quase é possível tocá-la.
Indecisão. Tão intensa. Angustiando várias pessoas próximas a mim.
Medo. Tão espesso. Eu o degusto, engulo e me sufoco com ele.
Ao olhar em volta de mim, não consigo ver nada que me satisfaça. Tudo parece parte de um grande lixão. Inclusive eu mesma. Descartável. Dispensável.
Fora de foco. Dentro do meu quarto trancado, cercada pelas coisas que procurei pra me fazer feliz, eu apodreço. Livros, música, sexo, doces, pizza, coca-cola, cerveja, cigarros, videogames, sonhos... Tudo me parece tão fútil. Inútil. Eu mesma, uma mera sombra do que um dia eu fui.
Não descobri o que causou isso em minha vida. Talvez seja amadurecimento. Ou o contrário. Mas não posso suportar mais um minuto tentando encontrar a resposta.
Já preparei todo o ritual. Meu quarto está limpo para receber o meu corpo, e o inferno me espera em algum lugar. Mas não me importo mais com o que possa existir depois dessa vida. Nada pode ser pior do que morar dentro de mim. Conviver com os monstros em minha mente. Alimentá-los.
As treze cápsulas deslizaram uma a uma pela minha garganta. O sabor da morte me envolveu antes que eu pudesse pegar a décima quarta. A sensação era de abandono, do corpo, dos bens materiais, do mundo... Era uma coisa boa. Era liberdade.