As horas não passam enquanto eu me arrasto ao longo desse dia. Não existe forma de escapar do tédio que consome esse lugar.
Eu fecho meus olhos e escuto os sons: passos apressados, conversas sussurradas, gritos, choro de criança, risadas exageradas, moedas batendo no balcão e sendo remexidas, dedos batendo no teclado do computador, ônibus acelerando e passando embaixo de mim...
Eu abro meus olhos e posso ver a confusão de pessoas apressadas, andando de um lado para o outro mas sem saber mais o que querem. Subindo e descendo as escadas o tempo todo, lotando as escadas rolantes e deixando as normais vazias. Atravessando roletas e fazendo compras, fazendo perguntas e discutindo com os filhos, rindo em altos brados com os amigos. Sozinhos, em duplas ou trios. Em grupos concentrados. Sacolas por todo lado.
Eu respiro fundo e sinto o cheiro de pastéis sendo fritos e de poeira lavada pela chuva. O cheiro do perfume forte que alguém deixou no caminho, do cloro usado para limpar o lugar onde estou. Cheiro de multidão.
Eu me estico e sinto as dores causadas pelo trabalho repetitivo. Uma dor constante e aguda no ombro esquerdo. Os pulsos repuxados, o braço direito sem forças para se levantar. A coluna em chamas pela má postura, resultado de cadeiras desconfortáveis e baixas. Um leve latejar na coxa, fruto de uma pancada forte na gaveta.
E eu olho o relógio e o tempo não passa, não passa, não passa.