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Pânico em imagens

Minha mente voa, em disparada. Cacos dispersam-se em todas as direções. Não consigo manter o foco. Tudo é brilhante e cortante demais. Incômodo. O pânico me faz querer fugir, sair correndo.
Há gaiolas em minha mente. Me prendendo nos mesmos pensamentos, me segurando na crença inabalável de que sou incapaz de mudar. De melhorar. De amar. De ser feliz.
Lá estou eu. A verdadeira eu, engaiolada. No mesmo lugar. Com medo de mudar. Enquanto minha máscara segue os caminhos pré-determinados pela sociedade. Trabalho. Faculdade. Tudo isso segue, sem propósito, sem vontade. Apenas arrastado.Se não estou vivendo meu sonho, não estou vivendo de forma alguma.
E eu racho. Enterrando minhas unhas na pele, eu racho por inteira. De alguma forma, meus pedaços se apoiam uns nos outros e se equilibram, me dando a aparência de inteira. Mas sinto que, ao mais leve balançar, posso desmoronar em mil pedaços. 
Está escrito no meu rosto que preciso de ajuda. Mas não consigo dizer. Há algo me impedindo de revelar as profundezas do meu ser. Não sei pedir ajuda. Não sei procurar ajuda. Estou presa e muda. Só sei me auto-mutilar e torcer para que vejam, para que falem. Para que me ajudem. Para que me ensinem a manter o foco sem me machucar.
Me deixa, mundo, me deixa. Me deixa só por um momento. Me esquece só por um minuto. Deixa eu ficar quieta aqui. Limpe a minha mente de tudo que me aborrece. Quero paz. Há tanto tempo que não descanso....
Eu grito, em silêncio.
E desvaneço.


Fotos por Katie Crawford

Dois pontos

o poema pulsa enquanto grito.
mentalmente, a necessidade
de escrever se revela.
intensa.

Os tatos no poema

Quero falar sobre tato
um passo como um pincel
a sensação da caneta trabalhando
e o calo no dedo de apoio.
Quero falar sobre a sensação
de usar as unhas como adagas
e passar a almofada macia do dedo
na cicatriz rugosa e irritada.
O distraído levar da caneta sobre a pele
o atrito da mão no cabelo e a estática
enquanto o próximo verso pulsa sob a língua
Freio.

Sonhos

Eu tenho muitos sonhos, há muitas coisas que quero fazer, há muitas coisas que quero ser, e não consigo decidir por onde começo. Sempre que tento começar em alguma coisa acabo falhando e isso me frustra e me faz parar e mudar. Quero fazer tudo ao mesmo tempo. E não sei por que estou fazendo essa faculdade. E eu tenho um medo horrível de mudar, pois tenho medo de fazer escolhas erradas e de perder tempo.
Eu terminei o ensino médio com 16 anos, e sempre considerei isso como uma dádiva. Sempre pensei que esse tempo que eu tinha a mais do que os outros era a minha oportunidade de fazer mais e melhor. E embora tantas coisas boas tenham acontecido, embora eu tenha conseguido uma bolsa integral para engenharia, tenha conseguido um emprego aos 18 anos e ser promovida nele após um ano, ainda não me sinto satisfeita. Por que apesar de tudo isso ter acontecido, eu não fiz nada do que eu queria fazer.

Eu fui empurrada para a escola, e a vida me ensinou que sem faculdade eu não seria nada. Então fui empurrada para a faculdade que me daria mais prestígio, que poderia me fazer ganhar mais no futuro. Não fui empurrada por meus pais. Tenho certeza que eles aceitariam minhas escolhas. Fui empurrada por conceitos que eu tinha na minha cabeça. Eu precisava ser rica, precisava ter muito dinheiro, queria comprar milhares de coisas, queria ter ter ter ter.

Agora não sei o que quero.

Só sei que quero continuar perseguindo minha única e verdadeira paixão, a única coisa que nunca abandonou meus desejos, aquilo que sempre foi parte de mim e que nunca deixei de fazer: escrever.
Mas, além disso, não sei o que fazer. Por que precisa existir algo além disso, não é mesmo? Preciso de um emprego estável. Preciso de uma faculdade. Preciso de uma casa. Preciso de bens materiais.
Às vezes tenho vontade de viver com o mínimo possível, às vezes tenho vontade de ter tudo e muito mais. Tento aceitar que essa confusão é normal, mas não consigo. Eu sinto que eu sou o tipo de pessoa que deveria saber o que quer da vida, que deveria saber de tudo sempre para poder guiar as outras pessoas. Sinto que não posso falhar, não posso demonstrar fraqueza, mas sou tão fraca e covarde tantas vezes (meu guarda roupa está uma bagunça e não tenho força de vontade para arrumar).


Eu estou tão sei lá... tão perdida... tenho essas limitações e não sei o que fazer com elas. Tenho essa vontade imensa de tudo, mas quero tudo agora, quero tudo pronto, não quero ter o esforço de mudar, quero o topo mas não quero subir a montanha...