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De onde surgiu minha procrastinação?

Depois de me tocar que esse é o defeito que mais me atrapalha, resolvi focar um pouco no meu passado pra descobrir por que ele surgiu. Além disso, é uma das características minhas mais fáceis de explicar a origem.

Desde que eu me entendo por gente, meus parentes sempre me elogiaram pela minha suposta "inteligência". Essa palavra para mim é muito problemática... é muito vaga, não engloba outros tipos de inteligência. Na minha concepção, simplesmente tenho uma capacidade de estabelecer ligações entre os neurônios mais rápida do que a média, e nem é uma coisa tão absurda assim. Eu entendo as coisas e as matérias escolares mais rapidamente? Sim. Vou ganhar um prêmio Nobel por isso? Nah.
Além do mais, qualquer um pode alcançar o mesmo nível que eu estou. Talvez usando um pouco mais de tempo. Talvez leve dois minutos para explicar para alguém o que eu entendi em um. Isso é vantagem para mim? É. Mas é razão para as pessoas me tratarem como um alien e, pior do que tudo, se menosprezarem por me considerarem melhor que elas? ...

Com três anos de idade, de acordo com minha mãe, eu lia da mesma forma que leio hoje: mesma velocidade, mesmo tudo. Por causa disso, eu não tinha muita paciência com o prézinho, que seria o primeiro nível escolar, a alfabetização das crianças que estavam por volta dos seus quatro, cinco anos. Meus pais se preocuparam com isso, e foram atrás de uma psicóloga. Foi através dela que meus pais conheceram a palavra "superdotada", que foi como me consideraram. Foi ela que orientou meus pais a estimular minha inteligência, e eles conseguiram me fazer avançar de série antes da hora... e me formei no Ensino Médio aos dezesseis.

Você deve estar pensando: Ok, muito interessante, mas... O que isso tem a ver com sua procrastinação?

Tudo. Por causa da facilidade que eu tinha em assimilar conteúdo, nunca precisei estudar. Não havia desafio. Não desenvolvi o hábito de estudar em casa, pois não precisava disso para passar. Meus colegas no Ensino Médio já reclamaram comigo: "Como você passa a aula toda desenhando e ainda vai bem nas provas?". Isso costumava me fazer bem, eu me sentia melhor do que as outras pessoas.
Foi só na faculdade que encontrei o desafio, e o tratei da mesma forma que tratei os estudos por toda a minha vida: com um belo foda-se. Não sei a matéria? Foda-se. Não terminei o trabalho? Foda-se. Eu sempre passo do mesmo jeito. Eu sempre vou bem.

Nisso, minhas reprovações me fizeram perder minha bolsa integral no Prouni.
Passei todo o ano de 2015 lutando contra isso.
Mas não me ensinaram a lutar.

Penso que talvez a música pudesse ter um impacto fundamental na minha vida. Se eu tivesse a oportunidade de aprender um instrumento musical desde que era uma criança, talvez hoje eu seria diferente. Talvez eu tivesse aprendido o valor do esforço, e saberia onde buscar essa força quando precisasse usá-la novamente.
Mas a única oportunidade que tive para isso me foi roubada, pois o professor mais faltava do que ia. Eu já tinha até o violão, mas eu não conseguia estudar em casa...

Ultimamente, passo todos os dias lutando contra minha procrastinação e pensando se é realmente ruim você passar um tempo fazendo algo que goste do que passar um tempo tentando aprender algo chato, mas que irá te ajudar posteriormente. Ainda não sei se existe uma resposta.

Eu não acredito em ódio

Afinal, como poderia?
O ódio que as pessoas sentem normalmente é sobre um aspecto de uma pessoa  ou uma única atitude de alguém. Ou seja, o ódio é apenas a respeito de uma fração da coisa ou da pessoa em si.
Então como se pode dizer que, por causa de uma atitude, você odeia a pessoa? Aquele alguém a quem você dedicou seu ódio é muito maior do que aquele ato. Ele tem uma história cheia de erros e acertos, ele pensa diversas coisas mas nem todas são ditas, ele pretende diversas coisas mas nem tudo faz, ele sonha mundos e realiza muito menos que isso. As pessoas são oceanos inteiros por baixo da casca que você vê.
Logo, não é possível odiar alguém. Para isso, você precisaria odiar todos os aspectos daquela pessoa, tudo que ela pensa, pretende e sonha, todas as coisas boas e as ruins também, todas as coisas que você conhece, as que você desconhece e as que a própria pessoa desconhece sobre si mesma. Isso é impossível.
É mais fácil dizer exatamente qual atitude ou aspecto daquela pessoa você odiou. Mesmo assim é uma coisa difícil de odiar, pois você não tem como saber o que estava por trás daquele ato, qual pensamento ou qual intenção a pessoa teve ao agir daquela forma. Você também não conhece as histórias, os traumas e os medos que moldaram aquele aspecto daquela pessoa.

É como diz Alejandro Jodorowski:
"Entre o que eu penso, o que quero dizer, o que digo e o que você ouve, o que você quer ouvir e o que você acha que entendeu, há um abismo."

Pensando nisso, percebi que o ódio na verdade não existe. Tudo que as pessoas dizem ser ódio é apenas ignorância e falta de empatia com o outro.