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Pânico e culpa

Eu tenho medo de ficar sozinha quando o meu pânico e culpa me sobem à garganta. O medo era, há algum tempo, a palavra e o sentimento que repercutia por todas as minhas palavras, faladas e escritas. Hoje é a culpa que permeia tudo que faço. Eu sei que eu não devo me culpar, ainda mais a respeito de coisas que aconteceram à tanto tempo. Mas ainda não sei como evitar a onda de culpa que me varre de vez em quando. A única forma que encontrei de barrar o ataque de pânico que surge após essa onda, foi tentar usar a escrita. Escrever para desafogar minha alma. Escrever me ajuda até mesmo com as dores do corpo, me distrai da suposta intolerância alimentar que me deixa inchada e faz meus pés formigarem. E a ajuda alheia e inesperada só me faz querer chorar. Quantas vezes esperei por uma palavra amiga enquanto eu me desfazia em pedaços? E agora eu nego a ajuda, com medo de desmoronar, como se isso me fizesse menos humana, menos mulher. Como se chorar fosse a prova da fraqueza que tanto tento mascarar.

Diálogo

Ela olhou para aquele rosto maltratado pelo sofrimento da alma, e sorriu. Recebeu um sorriso de retorno, mas parecia um sorriso triste em conjunto com aquele olhar morto.

- Ei garota, me ouve. Eu te amo, sabia? Mesmo com esse seu jeitinho desajeitado. Por isso, pelo fato de te amar tanto, preciso que você saiba de algumas coisas.
"Primeiro: você é linda. Não fique se julgando tanto por se achar magra demais, ou por achar que seus joelhos são estranhos. Não fique se cobrando pra usar maquiagem, use se você se sentir bem! Não ouça aquelas pessoas que dizem que você TEM que fazer as unhas... você não é obrigada a nada. Aceite-se como você é: linda."
"Segundo, pare de se cobrar desse jeito. Ninguém é perfeito, sabia? Você tem que, primeiramente, aceitar suas limitações. Depois disso que você irá aprender a lidar com elas. Se errou, assuma, desculpe-se, e conserte o erro se for possível. Se não for, não fique se culpando! A culpa te arrasta pra baixo e não te deixa seguir em frente. Se conheça, saiba o que você pode ou não pode fazer e melhore sempre o que você não pode fazer. Mas, se não conseguir melhorar sempre, relaxe e não se mate de culpa. A culpa é um veneno que você produz e você mesma engole."

Ela podia ver as lágrimas da garota descendo, e sua própria voz estava embargada.

- Por último, me perdoe... me perdoe por ter te machucado tantas vezes, e tantas outras vezes ter te dirigido palavras cruéis. Eu me culpei pelas suas falhas e descarreguei minha dor em cima de você. Perdoe-me por isso e lembre-se de que eu amo você. Vou passar a cuidar melhor de você. Vou te tratar bem.

Ela tocou o vidro frio com a ponta dos dedos, sorriu novamente para o seu reflexo amargurado e se afastou, fazendo a garota no espelho desaparecer.